Fez um ano que a minha vida deu mais uma grande reviravolta. Voltei à cidade de onde tinha saído 2 anos antes, para um novo emprego e, apesar de ser uma cidade que conheço bem, uma nova realidade pois comecei a
morar completamente sozinho. Nunca tive grandes dificuldades em estar sozinho, a maioria das vezes sabe-me bem e permite-me manter alguma sanidade mental, mas estar quase sempre sozinho ao final do dia era um desafio.
Como qualquer coisa nova, é normal começarmos como se diz...
cheios de força... e foi assim mesmo que começou, a casa era toda minha e eu queria fazer montes de coisas, queria
comprar muitas coisas para a casa,
queria decorar a casa, queria fazer
dela o meu espaço.
Eu não comprei muitas coisas para a casa, aliás continuam a faltar coisas essenciais que eu não compro nem sei bem porquê, mas comprei algumas coisas, desde a máquina de lavar, até vários objectos de casa de banho verdes a ver se conseguia ter uma casa de banho esverdeada (não está completamente mas caminha a passos de carcarol para lá)... a parte de decorar a casa de banho vem da altura em que eu via todos os programas de decoração do
People&Arts e pensei que tinha interiorizado alguma coisa, nada de mais errado obviamente.
Com a máquina as coisas começaram logo bem, pois consegui
inundar a cozinha 3 vezes e recentemente consegui
lavar as chaves do carro e num passe de mágica tipo Houdini elas ficaram a funcionar. Depois veio o som lá para casa em forma de
mini-hifi, e tudo o resto que foi aparecendo ao sabor das minhas necessidades/caprichos. Apesar disso, a casa continua meio despida e com o essencial até porque cedo descobri que quanto mais tralha tiver mais difícil se torna limpá-la e tendo eu uma predisposição natural para evitar limpezas até ao limite, acordei comigo próprio que só compraria tralha se: eu quisesse mesmo muito ou se precisasse mesmo muito.
E cedo descobri que morar sozinho também tem os seus
pequenos inconvenientes, algumas
pequenas vantagens, e que é muito fácil adquirirmos hábitos estranhos.
Da parte de
estar sozinho posso dizer que nem sempre foi fácil, a maioria das vezes estava bem, até porque durante uns tempos ia para o porto todos os dias e chegava bastante tarde com pouco tempo para o que quer que fosse e andava como que anestesiado, mas outras havia que eu dava tudo por estar com alguém ali ao lado comigo, a jantar, a ver televisão, um filme, uma série, a conversar, a rir, ou em silêncio apenas a ouvir a respiração de outra pessoa em vez de apenas estar sozinho e ter de procurar
alguma coisa para fazer ou tentar dormir só para não termos aquela sensação de vazio a bater no peito e a apertar a garganta, que nem um telefonema aos amigos conseguia atenuar. Não foi algo que foi piorando conforme o tempo foi passando, mas é mais cíclico, vai acontecendo, sem razões aparentes que o façam despoletar. Nessas alturas penso sempre se realmente será
bom para mim morar sozinho mas a única conclusão a que chego é a de que sim, pelo menos por enquanto quero continuar morar sozinho.
O balanço de morar sozinho é francamente positivo, não tenho de dar explicações a ninguém, tenho toda a privacidade, posso ter em minha casa quem eu quero e fazer o que eu quero, é uma liberdade que eu apenas trocaria para ter alguém em quem eu confie plenamente a morar comigo.
Deste ano o balanço é também muito positivo, sou completamente independente em todos os aspectos, atingi todos os objectivos a que me propus e ainda
consegui algumas coisas com as quais sinceramente não contava. Mas também tenho a plena consciência de que podia ter chegado ainda bem mais longe, mas... tenho alguma dificuldade em abdicar de tempo para preguiçar ;)